sexta-feira, 25 de março de 2011

A ultima decisão

Se próprio acusar não mais importava. Já estava quase condenada. A julgavam com provas tão objetivas e claras que por mais que ela apelasse para mentira, mesmo que parecesse convincente, não a salvaria da penalidade provavelmente imposta no final.


Resolveu chorar, os jurados já estavam votando em silencio, e provavelmente como ela mesmo sabia, seria dita como culpada. Enquanto esperava resolveu pensar, repensar nos seus atos.

É feliz? Foi feliz? Depois de muitos anos casada com alguém que não amava decidiu então se separar. Mas afinal o que é o amor. As palavras do ipsis literis dicionário não justifica a pequena palavra amor. Amor como dizem, não se explica, se sente. E quem é o dicionário para explicar um sentimento. Um livro nem pode amar, não pode sentir. Os que sentem, também não o sabem explicar.

O tribunal estava em silencio que era apenas quebrado pelo soluçar do choro da mulher. Silêncio, como ela desejou o silencio. Afinal, o que seria o silencio? Palavras mudas? Um quarto escuro e fechado que se encontra apenas a respiração do que o habita. Por muito tempo, o significado do silencio para a coitada mulher era esse. Hoje, nos minutos que esperava seu destino final depois do julgamento, via que o silencio estava no meio dos sussurros e vozes das pessoas. O silencio estava em uma musica alta, num salão aberto que se ouvia apenas os gritos e as risadas das pessoas que o habitam. Viu então que o silencio se resume ao que esta dentro da gente. Se queremos silencio basta nos ouvir, o silencio é nosso. Escutar algo é apenas um sentido, e não um sentimento. Viu então que como o amor, o silencio é um sentimento.

Calculava que faltava mais ou menos uns 5 minutos para a decisão final do juiz, resolveu parar de chorar e sorriu, no final seria feliz? Felicidade, pensou novamente nessa palavra. Não tinha dinheiro, não havia casado com alguém que amava, não tinha o melhor emprego no mundo. Mas percebeu finalmente que sua felicidade não dependia de nenhum desses fatores. A felicidade estava apenas nos sorriso dos lábios das pessoas, estava na alegria, no riso. No choro, se me vejo infeliz é porque sou também feliz, são opostos que não existem sozinhos.

Com o sorriso nos lábios, ouviu a decisão do juiz, olhou para transeuntes e conhecidos ao redor e finalmente pode fechar os olhos.

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